domingo, julho 09, 2006

O Destino??... (Paulo Coelho 7)

“- Muitas vezes tento entender o meu destino – disse ele (padre). – E nao consigo. Aceitei ser parte do exército de Deus e tudo o que tenho feito é tentar explicar aos homens porque é que existe miséria, dor, injustiça. Eu peço que sejam bons cristãos e eles perguntam-me: “Como posso crer em Deus, quando existe tanto sofrimento no mundo?”
E tento explicar o que não tem explicação. Tento dizer que existe um plano, uma batalha entre anjos e que estamos todos envolvidos nessa luta. Tento dizer que, quando um determinado número de pessoas tiver fé suficiente para mudar este cenário, todas as outras pessoas – em todas as partes do planeta – serão beneficiadas por esta mudança. Mas não acreditam em mim. Não fazem nada.
- São como as montanhas – disse eu. – São belas. Quem chega diante delas não consegue deixar de pensar na grandeza da Criação. São provas vivas do amor que Deus sente por nós, mas o destino destas montanhas é apenas dar testemunho.
Não são como os rios, que se movem e transformam a paisagem.
- Sim. Mas por que não ser como elas?
- Talvez porque deve ser terrível o destino das montanhas – respondi. – Elas são obrigadas a comtemplar sempre a mesma paisagem.
O padre não disse nada.
- Eu estava a estudar para ser montanha – continuei. – Tinha cada coisa no seu lugar certo. Ia entrar para um emprego público, casar-me, ensinar a religião dos meus pais aos meus filhos, embora já não acreditasse nela.
Hoje estou decidida a largar tudo isso e seguir o homem que eu amo. Ainda bem que desisti de ser montanha – não ia aguentar muito mais tempo.”

In Nas margens do Rio Piedra eu sentei e chorei, Paulo Coelho

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